Comemoração dos 182 anos do nascimento de Antero
Discurso Presidente Associação Amigos de Antero
Excelentíssimos Senhores Convidados, Ilustres Conferencistas,Caríssimos Amigos e Amigas de Antero Tarquínio de Quental
É com particular satisfação que presido a mais uma comemoração do nascimento de Antero e, por inerência,ao dia da nossa associação, sociocultural sem fins lucrativos, Amigos de Antero.
Na semana passada, quando divulgamos o programa das comemorações de mais um aniversário do nascimento de Antero, uma jornalista que nos abordou no sentido de obter um depoimento para um flash noticioso começou por questionar se, 182 anos depois, ainda fazia sentido comemorar o dia do nascimento de Antero.
Depois de nos determos sobre a sua vida e obra, o seu legado e os seus ideais, precisamente no ano em que se comemora também os 50 anos da revolução de abril de 1974, acreditamos que nunca fez tanto sentido esta comemoração.
Antero, apesar de todas as suas fragilidades de saúde, foi o mais forte dos revolucionários do seu tempo e por isso a história reservou-lhe a distinção do mais universal de todos os Açorianos. Prova-o, além da obra que deixou, acerca de uma centena de homenagens com o seu nome em praças, ruas e avenidas, estatuária, um centro interpretativo além de ser estudado em escolas e universidades. Só em Camões encontramos paralelo. Antero foi revolucionário na verdadeira essência da palavra, sem que nunca tenha ambicionado o exercício de cargos que lhe conferissem prestígio. Não terá sido por acaso que, apesar de se ter licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, por opção, nunca exerceu, e a sua principal experiência profissional foi como operário para melhor conhecer a força e os mecanismos dos movimentos operários e sociais da sua época.
Em relação a Portugal, sendo liberal, cedo se apercebeu do conformismo e da indiferença enquanto traço identitário da arte de ser português. Inconformado por natureza, acreditou que poderia contagiar os que lhe eram próximos no sentido de construir um Portugal melhor. Foi assim, ao fundar em 1861a sociedade do Raio, à sua chegada à universidade de Coimbra e, mais tarde, em 1871,com as conferências democráticas, apelidadas de conferências do Casino por se terem realizado na sala do casino.
Foi a sentida indiferença do povo português que Antero quis alterar através de tais conferências onde se pretendia discutir e encontrar novos rumos para Portugal. Novos rumos e destinos para Portugal foi o que também os capitães de abril apresentaram como fundamentação para o nascimento de um movimento social de mudança. Com a coação da força das armas foi possível fazer cair um governo e um regime.
Com as quatro conferências do casino realizadas, apenas pela força das palavras, das ideias, não se mudou um regime, mas marcou-se gerações e fez-se cair o governo presidido por um outro açoriano natural do ilha do Faial, o Duque D’Ávila, por ter proibido a realização da quinta conferência alegando que estavam a ser postas em causa a religião e as instituições políticas, num “ato de brutal violência” conforme apelidou Alexandre Herculano.
Sobre as conferências do Casino, Antero escreveu a Teófilo Braga, outro dos ilustres açorianos, que por coincidência fez o exame de liceu precisamente na mesma escola que Antero, e (passo a citar)“temos um programa, mas não uma doutrina: somos associação, não igreja: isto é, liga-nos um comum espírito de racionalismo, de humanização positiva das questões morais, de independência de [pontos de vista], mas de modo nenhum impomos uns aos outros opiniões e ideias.” (Fim de citação)
Do pensamento de Antero,partilhado com Teófilo Braga, não identificamos melhor forma de participação cívica, nemmelhor forma de intervenção social em profundo respeito pela diferença e liberdade de ação,pensamento e de expressão.
Antero, no seu ideário, sonhou com o progresso e desenvolvimento de Portugal sem fazer parte do poder, e muitos menos sem pensar eternizar-se nele. No seu ideário acreditou que era possível mobilizar um povo e fazê-lo participar na construção de um país moderno desprendendo-se das amarras sebastianistas.
Numa época em que vivemos atormentados a nível internacional pela guerra na Ucrânia, e pelo conflito de Israel com o Hamas, a nível nacional pela criminalidade económico-financeira, pela corrupção e pelo descrédito da classe política pelas constantes lutas em torno do exercício do poder, é preciso ter esperança.
Numa época em que o poder político se distancia e se esquece tantas vezes das pessoas concretas. Numa época em que o poder político,por norma, não participa nas ações promovidas pela sociedade civil, mas aspira constantemente à mobilização das massas para o exercício de manutenção no poder, é preciso ter esperança.
Antero teve uma vida relativamente curta (49 anos) caraterizada pela doença depressiva, pela genialidade, por uma torrente criativa e pelo reconhecimento público em vida. As dificuldades foram inúmeras, mas foi sempre na esperança que encontrou um porto seguro, até no momento derradeiro a palavra esperança esculpida em pedra ficou-lhe associada.
Nós, amigos de Antero, movidos pelos mesmos ideários e crenças, acreditamos que podemos contribuir para uma sociedade mais livre, mais desenvolvida, mais justa e mais fraterna. Não dispomos da força dos exércitos, não dependemos do erário público, não dispomos de orçamentos infindáveis, nem tão pouco aspiramos a ascender a cargos de poder. Todavia, com a força das ideias e das ações junto dos que nos são próximos, ajudando a ultrapassar dificuldades e a resolver pequenos problemas para uma cidade, pequenos problemas para um país, mas grandes problemas para as pessoas que os detêm, para esses acreditamos que temos a força de mil exércitos!
Por tudo isto, também, nos 50 anos de Abril, Antero Sempre!
Disse.
Alberto Peixoto