Palestras

NOVA POBREZA

Nos últimos anos, decorrente de uma pandemia vivida por todos nós e de uma guerra sentida por todos nós muito se tem falado na palavra pobreza.

Mas então o que é isso de Pobreza?

A Organização das Nações Unidas define que “A pobreza envolve mais do que a falta de recursos e de rendimento que garantam meios de subsistência sustentáveis. A pobreza manifesta-se através da fome e da malnutrição, do acesso limitado à educação e a outros serviços básicos, à discriminação e à exclusão social, bem como à falta de participação na tomada de decisões. “ fim de citação.

As situações de pobreza condicionam a possibilidade de desenvolvimento pleno da pessoa, a sua dignidade, o seu florescimento, a sua Saúde Mental e a possibilidade de Bem-Estar. Por isso, a pobreza encontra-se entre os principais determinantes socioeconómicos da Saúde Psicológica e do Bem-Estar, sustentando e sendo sustentada por desigualdades sociais e económicas, limitando as escolhas dos cidadãos e cidadãs.

A pobreza é uma experiência pela qual qualquer pessoa pode passar durante a sua vida e que pode limitar os nossos recursos para lidar com situações de adversidade, a nossa capacidade para satisfazer as nossas necessidades e realizar o nosso potencial. Vai muito para além da mera ausência ou escassez de recursos materiais, estendendo-se à ausência ou escassez de outras formas de capital humano, capital social e capital de saúde.

O problema da pobreza não é exclusivamente um problema dos pobres, embora sejam eles que mais sofrem com a situação de pobreza. É um problema nosso enquanto sociedade, porque a pobreza trava o desenvolvimento económico, põe em causa os valores democráticos da nossa sociedade e põe em causa, acima de tudo, a coesão social.

A temática da emergência da nova pobreza afeta sobretudo os indivíduos que se inserem na classe média. Tendo em conta a atual conjuntura económica e todas as mudanças que lhe estão subjacentes, torna-se relevante analisar de que modo esta afeta um determinado conjunto de pessoas que até há pouco tempo tinham uma situação financeira relativamente estável e uma inserção profissional satisfatória e que de um momento para o outro se encontram no limiar da pobreza.

Em cada país, em cada cultura existem grupos desfavorecidos, como afirma António Gomes: “A pobreza existe. Os pobres existem. Por toda a parte. Nos países muito ricos como nos países menos ricos. Nos países capitalistas como nos países socialistas. Nos países industrializados como os países onde predomina a agricultura.” (Gomes, 2002: 17). Contudo o conceito e a noção de pobreza têm-se vindo a modificar ao longo dos tempos.

A classe média, ou aqueles que acreditam a ela pertencer, e que constitui hoje grande parte da sociedade portuguesa corre risco de permanência. É neste contexto que Estanque considera que “(…) a «miragem» da classe média portuguesa vive, hoje, sob a ameaça de se esfumar em pouco tempo”.

Percebe-se assim que a atual conjuntura económica afetou os indivíduos a vários níveis da sua vida tornando-se em indivíduos revoltados, frustrados e que procuram a reintegração social o mais rapidamente possível. Sofrem ainda de um grande estigma e ocultam a situação, sendo que em alguns casos acabam por esconder até mesmo de familiares próximos. Ao nível da saúde, da estrutura familiar e das relações sociais, todas as vertentes acabam por ser afetadas devido à falta de poder económico e às dificuldades emocionais em conseguir lidar com a atual realidade. Então têm uma enorme dificuldade em reestruturar a sua vida, sendo que a maior parte não o consegue fazer, apesar de todo o esforço. Estamos perante uma situação de nova pobreza, sendo esta uma pobreza muito envergonhada, percebendo-se que é em parte consequência da forma como a comunicação social aborda e anuncia esta nova realidade. Todos eles pertenceram à classe média ou à classe alta, mas neste momento encontram-se na classe baixa.

André Ávila

Leave A Comment

O Seu Comentário
All comments are held for moderation.